1. Um pouco de ficção
Capítulo 1: O enigma
Do cimento para a relva
(se você perdeu o começo da história, ela está aqui, e assine pra não perder)
— De onde você conhecia a minha mãe? — Ela perguntou.
— Não a conheci muito bem. Eu vivo perto da sua casa. Mas percebi com o pouco contato o quão amorosa sua mãe era. Mas também uma mulher muito forte e decisiva. Me identifico com esse tipo de amor, menos meloso. A menina Julia acha que herdou isso da mãe?
— Não sei dizer. Espero que sim.
— Espero também. — E tornou a sorrir.
Por mais que tentasse prolongar o ritmo do dia, o bate papo pareceu acelerar o andamento da procissão para Julia. Não para a sua felicidade. Aos poucos, eles se aproximaram do cemitério, que era, na realidade, bem agradável, não fosse a quantidade de túmulos. As muitas copas de árvores criavam sombras deleitosas por todos os espaços onde a grama era verde e bem cortada, lugares perfeitos para descansar, mas muito próximos daqueles que repousavam para sempre.
Julia não gostava de túmulos enormes e imponentes, com imagens de anjos, ou santos, ela não compreendia essa celebração à morte ou aos mortos. Certamente que os mortos não estavam mais lá, de uma maneira ou de outra. Os piores eram os que tinham esculturas ou fotos dos mortos, ela sentia que eles podiam se levantar a qualquer momento. Como se a vida que viveram não pudesse se descolar da terra, e ficasse preservada naquelas imagens mórbidas. O temor daquilo que não vive mais é o próprio terror do tempo, dos dias que se vão, coisa que se presentifica em um misto de adoração e de melancolia em cemitérios. Ainda mais relutante, Julia saiu do cimento para a relva.
— Também não gosto de cemitérios — reconfortou o homem. — Acho que existe uma beleza em estar dentro de algum lugar, como um cofre. Para os outros, claro. Para mim, prefiro não estar. É o para sempre que tem gosto de derrota. Mas agora a menina Julia precisa dar adeus. Eu vou ficar aqui atrás, e você pode olhar se precisar de um amigo. É um momento que a garota precisa ter sozinha.
2. Notícias
Videogame e violência
Volte e meia a gente tem que falar sobre isso. E não sobre um ângulo que seria inteligente: sobre como podemos tratar de violência dentro e nas comunidades de games. Ou como podemos usar essa plataforma para criar o efeito oposto: uma sensação de colaboração e camaradagem. Inclusive, acho extremamente necessário a gente sempre dialogar sobre o conteúdo de tudo que a gente vê, absorve e joga. O problema é que os videogames servem como bode expiatório para um processo societário muito maior. Esse fenômeno de creditar aos games muito mais poder do que ele realmente têm começou com o nascimento do próprio jogo digital, lá pelos idos de 1970.
No momento, em nossa realidade brasileira, ainda sofremos com um processo de radicalização fascista da população. E isso, traçando uma relação ampla de consequência, desemboca nos atentados às escolas que presenciamos. Felizmente, o presidente Lula se retratou de sua fala. Mas, quando ela foi feita, acredito que revelou a inabilidade de temos de tratar videogame e cultura pop como um objeto sério de estudos igualmente sérios.
O presidente Lula se manifestou sobre os ocorridos, culpabilizando os videogames pela violência vista:
“Eu duvido que tenha um moleque de 8, 9, 10, 12 anos, que não esteja habituado a passar grande parte do tempo jogando essas porcarias. Hoje, a molecada joga com gente de outro país, passam noites jogando, e tudo isso resulta nessa violência no meio de crianças".
Em 2019, quando uma tragédia também assolou a cidade de Suzano (SP), o então vice-presidente Hamilton Mourão deu uma declaração parecida:
“Hoje a gente vê essa garotada viciada em videogames e videogames violentos. Só isso que fazem. Quando eu era criança e adolescente, jogava bola, soltava pipa, jogava bola de gude, hoje não vemos mais essas coisas. É isso que temos que estar preocupados”.
Lula e Mourão, duas figuras de diferentes espectros políticos, expressaram a mesma opinião sobre o assunto, inflamando o pânico moral sobre videogames. Essa falsa causalidade, como sempre, serve para desviar a atenção do problema principal - usar os jogos virtuais como bodes expiatórios é mais fácil do que debater os problemas reais que existem no universo dos games.
O governo precisa levar o assunto com mais seriedade; não podemos discutir políticas públicas com base em falácias ou estudos defasados e sem comprovação científica. Isso pode - e costuma! - desvirtuar o debate. Existem sim comunidades violentas dentro dos jogos - mas eles são apenas plataforma, não são a causa. Precisamos trazer para o debate público a discussão sobre combate ao extremismo e discursos de ódio dentro desses espaços. O Laboratório de Impacto Gamer é uma iniciativa que foi criada exatamente com esse propósito.
Eu e Ligia fizemos um artigo sobre o assunto, que você pode ler aqui
É meu aniversário!
Sábado, dia 19, é meu aniversário! Só queria contar, porque amo aniversário!
3. Dica
Baldur´s Gate III
Sim, eu estou gastando absolutamente todo meu tempo livre jogando Baldur´s Gate 3, que ganhei de presente de aniversário adiantado do Digão e do Thi, meus amigos e companheiros de RPG de mesa (obrigada, migues).
Baldur's Gate III se Dungeons & Dragons, dentro do cenário de Forgotten Realms e é gigantesco. GIGANTESCO. Você joga como um personagem que foi infectado por um parasita cerebral que toma conta do seu corpo e te leva a ter os piores impulsos. Você pode batalhar contra isso, ou não… Nem vou fazer um artigo inteiro sobre o game porque, sinceramente, quero acabar meu trabalho e jogar (hehehehe). Tava até pensando em jogar de barda na minha segunda vez e transmitir para um grupo mais fechado de pessoas, querem?
Uma das coisas que mais curto são as possibilidades de interação entre os personagens, e romance. Sim, romance. Inclusive, também recomendo este artigo:
POR QUE OS MELHORES RPGS PERMITEM QUE VOCÊ NAMORE SEUS COMPANHEIROS
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Adorei esta edição, acho que vou comentar sobre Baldur's Gate também, está tomando todo meu tempo livre hahaha
Num sentido similar ao que você comentou sobre lidar com o assunto da violência com seriedade, achei ótima a iniciativa do Xbox de dar strikes em comportamentos tóxicos. Acho isso um problema absurdo na comunidade